Há tempos ela apareceu, na verdade, procurou-me. Brilhou intensamente, abriu-me à arte, à vocação e aos sabores da vida. Garoto miserável eu era. Só queria ganhar para o pão. Minha habilidade para com ela fez-me vivo. Senti-me alguém pela primeira vez, num mundo que eu tinha repulsa.
Mas declaraste guerra, Lâmina. Como poderei lutar contra ti, que deu-me paz? Porque cortas a mim, agora? Queria dar a outra face, mas está também desfigurada. Que faço eu, diante da tua lancinante dor? Minha Lâmina, com tua precisão, não vês que me fazes esvair?
Queria conseguir guardar-te no fundo daquele velho baú, e tirar umas férias. Mas ainda preciso de ti para a sobrevivência.
Ó Deus do ofício (de amar), ajudai este pobre barbeiro.
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